A interferência
alimento-fármaco pode modificar as ações do medicamento (efeito terapêutico
e/ou colaterais).
Interação Fármaco X
Nutriente: interação entre o medicamento e nutriente.
Interação Fármaco X
Alimento: situação mais abrangente dos efeitos farmacológicos no estado
nutricional (alteração de apetite ou forma de se alimentar).
Interação na absorção:
A existência de
alimentos e nutrientes no estômago ou no lúmen intestinal pode desencadear uma
redução de sua absorção, e consequentemente haver uma redução significativa de
sua biodisponibilidade.
Os medicamentos podem
diminuir a absorção de nutrientes alterando o tempo intestinal dos alimentos e
nutrientes. Por exemplo, drogas catárticas (droga utilizada para aumentar o
bolo fecal e reduzir o tempo de seu transito intestinal) e laxantes (droga que
atua no tratamento da constipação intestinal) que podem gerar diarréia,
desencadeando a eliminação de cálcio e potássio. Fármacos como furosemida
(Lasix), ácido valproico (Depakene), carbamazepina (Tegretol),
Trimetoprima/sulfametoxazol (Septra) e misoprostol (Cytotec) podem induzir a
diarréia.
Exemplos de fármacos
que possuem uma redução significativa de sua absorção, quando administrados no
momento das refeições, são os da classe anti-osteoporóticos como alendronato
(fosamax), risendronato (actonel) ou ibandronato (boniva). Havendo ainda uma
redução de cerca de 60% quando ingeridos com café ou suco de laranja.
Suplementos ferrosos
quando administrados juntos a alimentos, podem ter uma redução de 50% de sua
absorção. Sendo melhor absorvido com cerca de 227,3 ml d’água, estando com
estômago vazio. Caso seja preciso ingerir junto as refeições, não recomenda-se
sua ingestão junto a grãos, ovos, alimentos fontes de fitato, chá, café,
laticínios ou suplementos de cálcio e fibras. Pois estes podem reduzir sua
absorção.
Fármacos utilizados no
tratamento de úlceras podem diminuir a absorção de nutrientes como a Vitamina
B12, por alterarem o PH gástrico (impossibilitam a secreção do ácido gástrico,
gerando aumento do PH). Por exemplo famotidina (Pepcid), tanitidina (Zantac),
omeprazol (Prilosec) e esomeprazol (Nexium). Outros fármacos que podem
complicar absorção da Vitamina B12 são colchicina (anti-inflamatório usado para
tratar gota) e ácido para-aminossalicílico (antituberculose).
Sulafassalazina
(Azulfidine), trimetropim e pirimetamina (Daraprim) são alguns dos fármacos da
classe de inibidores competitivos de transporte de folato.
Antibióticos como
ciprofloxacina (Cipro) e tetraciclina (Achoromycin-V ou Sumycin) interagem com
cálcio, magnésio, zinco ou ferro; ou alumínio ou antiácidos, inibindo ou
diminuindo a absorção do fármaco e nutriente. Por isso, é sugerido que o
fármaco seja administrado cerca de duas horas antes ou seis horas após o
nutriente.
Sabe-se ainda que uma
alimentação rica em fibras possa interagir na absorção de antidepressivos como
a amitriptilina (Elavil), ocorrendo uma redução de seu efeito terapêutico. Ação
semelhante acontece com as drogas cardiovasculares como a digoxina (Lanoxin) e
alimentos fontes de fitatos (farelo de trigo, farinha de aveia).
De outro modo, temos
alimentos que possuem uma maior absorção quando administrados com alimentos no
estomago, como é o caso do antibiótico cefuroxima acetil (Ceftin) ou a droga
antirretroviral saquinavir (Invirase). Sendo recomendado sua ingestão após as
refeições, para que ocorra uma absorção significativa.
No caso de fármacos do tipo analgésico e anti-inflamatório, são
administrados próximo ou durante uma refeição. Objetivando reduzir agressões à
mucosa gástrica, realizada por longo período de medicação. Há determinados
casos, que a ingestão do fármaco junto ao alimento, não causará sua redução de
absorção, e sim um maior tempo para chegar à sua concentração sanguínea máxima.
Interação no metabolismo:
- Anticonvulsivantes:
·
(fenobarbital e fenitoína): ↑ o metabolismo de ácido fólico, vitaminas D
e K.
·
Carbamazepina (Tegretol): influencia no metabolismo do ácido fólico, da
biotina, Vitamina D.
- Tratamento de tuberculose:
·
Isoniazida: atua no bloqueio do piridoxal-5fosfato (forma ativa da
piridoxina).
·
Hidralazina (Apresoline), penicilamina, levodopa (Dopar) e cicloserina
(Seromycin): exercem como antagonistas de piridoxina (vitamina B6).
- Tratamento da artrite
reumatoide e câncer:
·
Metotrexato (Rheumatrex): antagonista de ácido fólico.
Interação como quelante:
Entacapone (Comtan)
utilizados no tratamento da doença de Parkinson atua como quelante de ferro
(ação do medicamento em selecionar o nutriente facilitando sua excreção pelo
organismo). Por isso há uma necessidade de administrar o ferro uma hora antes
ou duas horas após a administração do medicamento.
Interação na excreção:
Fármacos do tipo corticosteroides
(como a prednisona) atuam na redução da eliminação de sódio do organismo,
gerando uma retenção hídrica e de sódio. E de forma antagônica, atua aumentando
a excreção do potássio e cálcio, além de prejudicar este segundo elemento. Por
isso deve-se ficar atento para que indivíduos que possuem asma, lúpus ou
artrite reumatoide, não adquiram a osteoporose.
De
acordo com Peixoto et al. (2012), o uso ao longo prazo de ácido
acetilsalicílico pode causar maior necessidade de nutrientes como a vitamina C
e ácido fólico. Informando também que fármacos como a hidrocloratiazida pode
causar desidratação e redução do zinco, magnésio e potássio.
Curiosidades:
Drogas que podem gerar sangramento gastrointestinal e
úlceras |
|
Anti-infecciosos |
-Anfotericina B; -Ganciclovir de
sódio. |
Antineoplásicos |
-Aldesleucina interleucina-2;
-Erlotinibe; -Flurouracil; -Leuprolide
acetato; -Imatinibe mesilato; -Leuprolite; -Mitoxantrona; -Metotrexato; -Vimblastina sulfato. |
Imunossupressores |
-Corticosteroides; -Micofenolato. |
Vários |
-Fluoxetina; -Paroxetina; -
Bromocriptina; -Donepezila; -Fluvoxamina; -Levodopa. |
AINE, Analgésicos, Antiartríticos |
-Aspirina/Ácido acetilsalicílico;
-Diclofenaco de sódio;
-Ibuprofeno; -Celecoxibe; -Etodolaco; -Cetoprofeno |
Fonte: 13ª edição do Krause.
Drogas que podem causar diarréia |
|
Antibióticos |
-Amoxilina; -Ampicilina;
-Cefalexina; -Pencilina; -Tetraciclina;
-anfotericina B; -Atrovaquona; -Azitromicina;
-Cefdinir; -Cefixima; -Clofazimina; -Levofloxacino;
-Linezolida; -Meropenem; -Metronidazol; -Quinino Sulfato; -Rifampina; - Pirimetamina |
Antineoplásicos |
-Aldesleucina interleucina-2; -Capecitabina; -Carboplatina; -Fluorouracil; -Imatinibe; -Irinotecano; -Metotrexato; -Mitoxantrona;
-Paclitaxel |
Antivirais |
-Didanosina; -Lopinavir;
-Nelfinavir; -Ritonavir; -Estavudina; -Foscarnete. |
Gastrointestinais |
-Magnésio magonato (leite de
magnésia); -Lactulose; -Metoclopramida HCL; -Misoprostol; -Casantranol e
docusato de sódio; -Sorbitol; -Orlistat |
Hipoglicêmicos orais |
-Metformina; -Acarbose; -Miglitol |
Fonte: 13ª edição do Krause.
Drogas |
Perdas nutricionais |
Ação |
Antiácidos |
||
- Hidróxido de alumínio; - Carbonato de cálcio; - Bicarbonato de sódio; - Trisilicato de magnésio. |
- Lipídio; - Ácido fólico; - Vitamina K; - Cálcio; - Fósforo. |
- Aumenta o Ph, alterando a solubilidade; - Reduz a absorção. |
Laxativos |
||
- Óleo mineral; - Fenolftaleína; - Bisacodil. |
- Caroteno, Vitaminas A,D,K e Lipídios. - Vitaminas A,D,E,K, Lipídios e Cálcio. - Lipídio, Sódio, Potássio e Cálcio. |
- Dificulta absorção e aumenta o transito
intestinal - Aumenta o transito intestinal, reduzindo seu tempo
intestinal. Reduz vilosidade intestinal, gerando menor absorção. - aumenta a motilidade intestinal, reduz tempo
intestinal e reduz a absorção no cólon. |
Antibióticos |
||
- Neomicinas Isoniazida; - Tetracilinas. |
- Lipídio, Sódio, Potássio, Cálcio, Ferro,
Vitaminas B12 e B6. - Cálcio e Ferro |
- Danifica a mucosa intestinal, reduz as
vilosidades intestinais, causa esteatorréia, reduz ação da lipase pancreática. - Reduz absorção por ligação com íons de cálcio ou
sais de Ferro |
Agente Hipocolesterolêmico |
||
- Colestiramina, Colestipol, Clofibrato. |
- Lipídios, Ferro, Vitaminas A,K,D e B12 |
- Causa inapetência e reduz absorção |
Fonte: MOURA &
REYES (2002).
Referências:
PEIXOTO, J.S.; SALCI,
M.A.; RADOVANOVIC, C.A.T.; SALCI, T.P.; TORRES, M.M.; CARREIRA, L. Riscos da
interação droga-nutriente em idosos de instituição de longa permanência. Rev:
Gaúcha Enferm. Porto Alegre, 2002.
MAHAN, K.; ESCOTT-STUMP, S.;
RAYMOND, J. Alimentação nutrição e dietoterapia. 13ª ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2012.
MOURA, M.R.L.; REYES, F.G. Interação
fármaco-nutriente: uma revisão. Rev: Nutr. Campinas, 2002.
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